quinta-feira, 28 de março de 2019

Matar o tempo


É tempo de matarmos o tempo,
não o deixar passar.
Congelemos o amanhã,
porque é hoje, é hoje.
Ontem? Podemos recordar,
mas já não volta. Já passou.
Passou, porque não o pudemos congelar.
Se pudéssemos, assim o teríamos feito.
Mas quando?
Se congelássemos o tempo, ao primeiro momento bom,
não viveríamos os seguintes.
Mas também não viveríamos os maus.
Era o limbo.
Eu não queria, mas agora quero.
Amanhã não haverá momentos bons.
Ou talvez haja, há sempre...
Mas os maus, os momentos maus,
estão cada vez mais escondidos numa esquina.
É tempo de matarmos o tempo,
antes de passarmos nessa esquina.
Que se lixem os momentos bons que estão por vir.
Troco-os todos pelo limbo.
Ontem não queria, hoje quero.
Passamos a vida a matar o tempo,
e o tempo é que nos mata...

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Estou sempre por aí


Estou sempre por aí,
onde o tempo me procurar.
Pareço morto, ou talvez ausente,
mas, olha para mim, ali... a voar...
A voar bem alto, com os sonhos
dos quais sou construído.
Olha para mim quando durmo...
É quando abro as minhas asas.
Mesmo a morte, para mim, será apenas um sonho.
E passam-se coisas,
dentro do que sonho,
que jamais vos poderei contar, descrever, clarear...
Estou sempre por aí,
a vaguear pelos meus sonhos,
e talvez nos sonhos de alguém.
Quem beber desta fonte,
viverá eternamente.
Quem sonhar,
não desperdiçará a vida.
Quem não viver, desta forma viverá...
Toda a vida do mundo não é suficiente,
para aquilo que quero sonhar.
Estou sempre por aí,
a corromper a virtude de quem não voa,
mesmo estando alto, no ar...

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Bolha


Quem pode acreditar que todos nós já fomos, um dia, aquele...
Cada um constrói a sua cruz, mesmo acreditando estar a construir a sua bolha...
Cada um se sopra para o abismo,
cada um prega a sua mão,
ao que os menos informados chamam destino.
Eu crucifico-me,
Tu crucificas-te,
Eles crucificam-se.
E todos nós julgamos ser bolhas,
que uma criança gorda tenta rebentar.
Bolhas de sabão...
Nunca existiu...
É só uma cruz.
Tenho de "morrer" nela para me poder salvar.
Vender a alma ao Diabo, para me crucificar.
Não adianta soprares a bolha,
outra porção de madeira chega e completa a cruz.
O sorriso não é nada.
A vida não passa de uma criança gorda.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Hoje



Hoje senti-me onde já não estou.
Hoje penso que nunca lá estive.
Hoje o mundo girou.
Hoje entendi que nada está cristalizado.
Hoje não serenei.
Hoje quis voltar para os braços do que já fui.
Mas a viagem continua.
Se eu ao menos tivesse um génio...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Ontem


Ontem, por esta hora, comia uma tosta feita pelas tuas mãos.
Ontem, por esta hora, mimavas-me.
Ontem, por esta hora, dali a pouco sentiria o teu corpo colado ao meu.
Ontem, por esta hora, mimava-te.
Ontem, por esta hora, tive ainda mais certezas.
Hoje, por esta hora, choro, perdido, por não ser ontem por esta hora.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Ainda


Ainda que muito tentem,
e no final eu falhe,
não deixarei de lutar.
Ainda que eu pareça preso,
sou livre em mim e nos sonhos.
Não quero pertencer,
não, não quero.
Quero ser sempre eu...
Quero ser sempre puro, livre...eu.
Ainda que me gritem forte,
os meus ouvidos já não obedecem.
Ainda me eu vacile,
não vacilarei cá dentro.
Dentro da minha concha eu não vacilo.
Ainda que eu pareça errado,
como um comboio desgovernado,
eu tenho sempre a linha que me rege.
A minha linha levará à minha estação.
Ah, merda, será à minha estação, não à vossa...
Ainda que pensem que mandam em mim,
sou eu que sou o meu dono.
Nunca, nada, ninguém...
Ainda acredito,
nem que seja só eu a faze-lo.
Se quiseres desenhar um outro,
não vou ser eu.
Ficas com um desenho.
Ainda que pareça eu, não o serei.
Não desisti. Ainda...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Caminho

 Se de repente eu tiver medo,
ou achar que não é assim,
não posso voltar atrás.
 Os passos estão percorridos.
Olho para trás e vejo o caminho.
Olho para a frente e nada vejo,
embora saiba que algo está lá.
Talvez não queira ver.
Mesmo que me digam,
que o melhor ainda vem,
eu acho que só diz isso,
quem teve um mau caminho.
O meu caminho foi tão bom.
Ponto de viragem...
ou só angústias de uma madrugada.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Madrugada


E assim vagueio por madrugadas que irão ser dias...
Dias que se tornarão de novo madrugadas,
num eterno retorno de limbo...
Como se pode dormir com o som dos violinos,
com a orquestra do luar?
Como se pode querer que nasça o Sol, se ele traz a sombra?
Na madrugada não há sombras. Tudo é igual,
tudo é penumbra. Todos os gatos são pardos.
Eu não gosto nada de sombras.
Que toquem os violinos.
A madrugada acabou e o actor sai de cena.
Fechem as cortinas.
Até breve, quando o dia acabar.